sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Museu Oscar Niemeyer exibe em mostra o olhar sensível do fotógrafo e lavrador Haruo Ohara


Haruo Ohara foi um tipo peculiar de artista, daqueles que encontram forma de conciliar fazeres aparentemente díspares, harmonizando-os. Foi assim com a sua rotina de agricultor e seu trabalho sensível como fotógrafo. Da enxada à câmera, da lavoura ao laboratório, Haruo plantou sementes, viu-as germinar, velou o seu desenvolvimento e delas tirou o fruto. O mesmo serve, metaforicamente, para a sua produção fotográfica, de cuja "safra" o Museu Oscar Niemeyer (MON), de Curitiba (PR), reuniu 150 imagens para a exposição Haruo Ohara – Fotografias, em cartaz até o final do mês de março.

Haruo Ohara nasceu no Japão em 1909. Veio para Londrina, no Paraná, aos 17 anos, junto com os pais e os irmãos. Cultivou a terra ao longo de boa parte de sua vida adulta. Simultaneamente, registrou em imagens o seu cotidiano e o de seus familiares. Sua obra, alinhada com a fotografia moderna e humanista de meados do século 20, contribui para mostrar que alguns dos antagonismos da cultura brasileira não resistem ao surgimento de um novo personagem histórico na passagem do século 19 para o 20: o imigrante europeu ou asiático, que renova cultural e economicamente o país a partir do campo e que, no caso específico de Ohara, encarna tanto o homem da terra como o homem da cultura.

A exposição no MON tem apoio do Governo do Paraná e da Caixa Cultural. O acervo mostrado, feito de imagens em preto e branco, remete aos anos de 1940 a 1970. Nele, encontramos formas abstratas habilmente construídas pelo fotógrafo a partir de volumes e texturas de objetos e da natureza presentes em seu dia-a-dia. Também estão presentes as marcantes imagens documentais e humanistas da família, da região e de seu trabalho associado à abertura da nova fronteira agrícola no norte paranaense, registro que conferiu a Haruo lugar entre os mais importantes nomes da fotografia brasileira da segunda metade do século 20.

Sua obra aponta para o fato de que, mesmo em um momento de forte transformação e aceleração tecnológica (urbanização crescente do Brasil na época), talvez apenas o tempo real de maturação das flores, frutos e filhos, fortemente representados em sua obra fotográfica, seja também o tempo real e necessário para a criação artística. Essa insistente sinalização para o verdadeiro ciclo da vida e da terra, com seus ritmos ancestrais, é o seu principal legado.

Haruo Ohara morreu em 1999. Um ano antes, havia sido homenageado pelo Festival Internacional de Londrina com a exposição Olhares, de grande repercussão. Ainda em 1998, seu trabalho foi exposto na Segunda Bienal Internacional de Fotografia da Cidade de Curitiba, com coordenação e curadoria de Orlando Azevedo, que publicou em 2009 o livro Haruo Ohara.

Por decisão da sua família, seu acervo foi doado ao Instituto Moreira Salles (IMS) em janeiro de 2008 e passou a ser tratado e preservado pelo instituto, com sede no Rio de Janeiro, principal instalação dedicada à conservação e à preservação da memória fotográfica no Brasil. Esse acervo, de um dos importantes nomes da fotografia brasileira, é composto por cerca de oito mil negativos em preto e branco, dez mil negativos coloridos, dezenas de álbuns e centenas de fotografias de época, além de equipamentos fotográficos, objetos, documentos pessoais, diários e livros. A guarda desse conjunto permite um estudo aprofundado da obra do fotógrafo e de sua trajetória como imigrante e pequeno agricultor de Londrina. Com parte desse material foi montada a exposição em cartaz no Museu Oscar Niemeyer.

Haruo Ohara – Fotografias

Onde: Museu Oscar Niemeyer

End.: Rua Marechal Hermes, 999

Até 27 de março

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