terça-feira, 26 de abril de 2011

Fotógrafo brasileiro registra como o Japão tenta se reerguer

LIUCA YONAHA
Calma, organização e respeito ao próximo em uma situação de calamidade. Foi isso o que o fotógrafo André François tentou registrar nos dez dias que passou no Japão, visitando áreas atingidas pela maior catástrofe do país desde a Segunda Guerra Mundial. François e sua assistente, a jornalista Paula Poleto, viajam o mundo para mostrar como a saúde é tratada em diferentes contextos. O fotógrafo havia visitado o Haiti, em janeiro de 2010, também após uma grande tragédia – o terremoto que devastou Porto Príncipe. Decidiu ir ao Japão para comparar as duas realidades. “Queria mostrar as equipes de resgate, de reconstrução, como elas se comunicam entre si. A integração é um grande problema nessas situações, quando há muita gente querendo ajudar, pode acabar esforço desperdiçado”, diz.

François diz que a solidariedade manifestada em um respeito extremo ao próximo e às regras o surpreendeu. Diferentemente de outras imagens que vimos em catástrofes recentes, como os terremotos do Haiti e do Chile, no ano passado, praticamente não há registros de saques e furtos às residências abandonadas pelo risco de radiação ou aos pertences espalhados pela onda gigante. “Andei muito nos escombros. Achei uma caixa de joia aberta e as joias estavam lá”, diz. O fotógrafo conta que viu pertences pessoais separados e organizados entre os destroços de casas. “Militares e pessoas comuns faziam isso: organizavam os objetos, documentos, fotos e colocavam em um cantinho, para quando os moradores ou familiares chegassem ali.”

A comida escassa também era dividida. François acompanhou um grupo de brasileiros que havia arrecadado um caminhão de alimentos para doação. “Chegamos a Minami Sanriku (em Miyagi) e encontramos um abrigo novo, que tinha sido descoberto recentemente. Eles olharam e disseram: ‘temos comida para três ou quatro dias. Vocês podem procurar gente que está precisando mais’.”

Em sua expedição, François chegou ao município de Ishinomaki, um dos mais atingidos, em Miyagi, quando a área devastada havia acabado de ser aberta à população. Lá, encontrou uma jovem de cerca de 28 anos, caminhando bastante triste. “Ela se chamava Abe. Depois de um mês do terremoto, havia conseguido entrar no bairro onde os pais moravam”, diz. Abe estava em seu segundo dia de busca nos escombros por algum vestígio de sua família. “Não tive coragem de conversar muito a fundo com ela, de perguntar se ela acreditava que os pais pudessem estar vivos.” Como Abe, François viu dezenas de pessoas procurando por familiares, mais de 30 dias após o tsunami devastador em Ishinomaki.

Em uma região rural, a 30 quilômetros de Sendai, conversou com um casal de idosos que lhe disse que todas as pessoas que conheciam na vizinhança em que moram há 60 anos morreram. “Eles escaparam porque ele, um senhor de cerca de 70 anos, viu o tsunami, pegou o carro e fugiu, dirigindo e vendo o tsunami atrás”, afirma narrando a cena aterrorizante.

Apesar das histórias tristes, François deixou o Japão nesta semana com a vontade de mostrar a todo o mundo a forma como os japoneses estão encarando a catástrofe. “É uma grande lição para a humanidade”, diz.

Nos dias no Japão (essa foi a primeira vez que o fotógrafo visitou o país), diz que o maior medo era da contaminação por radioatividade. François e sua assistente se informaram bastante sobre os riscos e andaram o tempo inteiro com medidores de radiação. Em momento algum, os equipamentos apontaram que pudessem estar se expondo ao perigo. As fotos e os relatos coletados formarão mais uma etapa do Projeto Vida, uma parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Panamerica de Saúde (Opas). “Uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é a base de nosso projeto. Ela diz que a cada dólar investido em uma ação de saúde e educação, cinco dólares serão economizados no ‘curativismo’ (tratamentos, e não prevenção).”


Veja imagens em http://migre.me/4mjw7

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