segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Obra coletiva, O astronauta une fotografia e artes plásticas às HQs


Há alguns anos, o roteirista e desenhista Lourenço Mutarelli declarou que não faria mais histórias em quadrinhos e que se dedicaria mais às atividades de escritor e de ator. Recentemente, o autor de Transubstanciação e O dobro de cinco voltou atrás e produziu algumas tiras para um jornal paulistano — um aperitivo para sua tão aguardada e ainda não confirmada volta às HQs. Essa ausência, no entanto, não significou o sumiço do nome de Mutarelli dos créditos de uma história em quadrinhos. Lançamento da Zarabatana Books, O astronauta tem o paulistano como autor do texto. Mutarelli topou participar da obra a convite do fotógrafo Flavio Moraes, responsável pelos cliques usados para a criação das ilustrações — feitas, por sua vez, pelos artistas plásticos Fernando Saiki e Olavo Costa. A HQ foi o trabalho de conclusão de curso de Fabio e sua publicação recebeu apoio do Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo. O astronauta é uma HQ que foge do convencional por diversos motivos. A arte foi feita em cima de fotos, mas o resultado não é uma fotonovela. Os desenhos feitos com nanquim, por vezes se aproximam da gravura. O texto é misterioso e reflexivo. Mais pelo conceito do que por eventuais semelhanças na arte, O astronauta remete o leitor aos quadrinhos pintados publicados no começo dos anos 1990 pela Editora Abril — obras de gente como Jon J. Muth, Ken Williams, Scott Hampton e Bill Sienkiewicz. Trabalhos que desafiaram convenções e trouxeram muito das artes plásticas para as histórias em quadrinhos.

Em O astronauta, o protagonista é o próprio Lourenço Mutarelli. Ao chegar em seu apartamento, ele se veste como um astronauta e passa a “viajar” pelo apartamento e divagar sobre a existência e a exploração espacial. As citações vão de Goethe a Stanley Kubrick, passando por Luthero e Paracelso. “Estou em órbita”, exclama Mutarelli a um amigo que lhe telefona. A produção da HQ levou cinco anos. Moraes fez as fotos, a direção de cena e diagramou as páginas. Fernando Saiki começou a fazer a arte sozinho e, mais para o fim do processo, teve ajuda de Olavo Costa. O resultado é de rápida leitura, mas de lenta absorção. Pelo fato de as ilustrações terem sido feitas em cima de fotos, o ritmo narrativo não é tão ágil, o que, nesse caso, funciona como um convite a contemplação. Cada quadro pode ser consumido devagar, nas suas minúcias e detalhes.

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