quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Exposições, debates e oficinas tratam da imagem em processos analógicos

Por Nahima Maciel

A fotografia analógica vai tomar conta do Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul, a partir de hoje. É com homenagem à técnica cada vez menos praticada que o Fotoclube f/508 dá início à 1º Semana f/508 de Fotografia — I love film. Até o final do mês, o espaço recebe quatro exposições, ciclo de debates e oficinas focadas na prática da imagem concebida unicamente em processos analógicos. “Vamos discutir a preservação da cópia, as tendências e as linguagens do analógico”, avisa Humberto Lemos, um dos idealizadores do evento. “É um suporte que atrai muito a meninada, o pessoal jovem. No Rio de Janeiro houve até um crescimento de 20% na revelação de filmes.”

A facilidade e o custo da tecnologia digital baratearam o processo fotográfico e tomou conta do mercado nos últimos 10 anos. A foto em filme negativo perdeu espaço e ficou cara, mas a surpresa de não saber imediatamente o resultado de uma imagem ainda seduz os praticantes. “O analógico tem a ansiedade. Tenho um problema com o digital: demoro para passar para o computador porque o prazer de ver a foto já passou. Na foto analógica, além do prazer de pensar o resultado, tem essa ansiedade para ver como ficou”, explica Janaína Miranda, 22 anos, integrante do f/508.

Além das exposições e oficinas, a semana da 508 traz ainda uma homenagem ao tcheco Mirsolav Tíchy, especialista em construir suas próprias câmeras desde a década de 1960. Na noite do lambe-lambe, evento em que o f/508 realiza projeções, as imagens de Tíchy serão exibidas em telão, assim como um filme em stop motion com fotografias pinhole realizado pelo fotógrafo Dirceu Maués e imagens do grupo Low-Fi, que trabalha com fotografias realizadas com tecnologias alternativas. Veja ao lado as exposições e oficinas programadas para o evento do f/508.

Estética do Acaso: » A falta de controle sobre os erros ou acertos é o que atrai os seis fotógrafos da exposição, todos integrantes do fotoclube f/508. Com máquinas Lomo ou aparelhos classificados como de ``baixa tecnologia``, eles se expõem ao acaso para captar imagens nas quais a falta de controle se torna parte de uma linguagem.

Fotografia pinhole
» Pinhole é qualquer aparelho fotográfico construído de forma precária, com caixas ou latas transformadas em câmeras escuras prontas para receber a luz através de um orifício. A engenhoca pode ou não ter lente e o resultado é altamente empírico. O acaso tem papel importante na prática. Humberto Lemos, Thiago Barros e Beth Coutinho assinam as imagens desta exposição. ``Você não tem controle nenhum sobre o resultado e a técnica não é importante aqui. O pinhole não tem definição de ótica e dá um quê de sonho na imagem``, escreve Barros.

Processos históricos
» No século 19, quando a fotografia começou a ser popularizada, os meios de reprodução passavam longe dos processos industriais dos tempos modernos. Para reproduzir uma imagem era preciso dominar práticas artesanais, preparar o papel e ampliar imagem por imagem. Cianótipo, papel albuminado e papel salgado eram os processos mais frequentes. Alunos e integrantes do f/508 fizeram cursos para produzir o material da exposição ampliado com métodos artesanais na mostra que reúne nove fotógrafos e 25 obras.

Em busca do paraíso perdido
» O curitibano Angelo José da Silva transpõe para serigrafias as imagens de arte urbana — especialmente grafites — coletadas nas ruas das grandes cidades com uma câmera Rolleiflex e filme em preto e branco. O trabalho rendeu livro artesanal, costurado à mão e lançado em Brasília no início do mês. Na 508, Silva apresenta quatro imagens do livro ampliadas em 70 x 70cm.

Oficinas:

» Quatro oficinas estão programadas até o final do mês. Em Daguerreotipia os inscritos poderão aprender com Francisco Moreira da Costa a confeccionar daguerreótipos, placas de vidro nas quais a imagem era impressa nos primeiros tempos da fotografia. O coletivo Garapa, de São Paulo, será o único a abordar tecnologias contemporâneas com a oficina Experiência multimídia. As vagas estão esgotadas para os dois cursos, mas quem estiver interessado ainda pode se inscrever nas aulas de pinhole e processos históricos. Na primeira os alunos vão aprender a construir câmeras artesanais com o fotógrafo Dirceu Maués e na segunda, Luís Gustavo Prado ensina a manipular químicas para fixar fotos em papéis alternativos. Todas as oficinas são gratuitas e acontecem no Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul).

PROCESSOS ALTERNATIVOS
Com Luís Gustavo Prado. De 28/8 a 9/10
Sábado das 9h30 às 12h30. R$ 400 R$ 25 para o material

CONSTRUÇÃO DE CÂMERAS ARTESANAIS
Com Dirceu Maués. Sábados e domingos
Dias 21, 22, 28 e 29 de agosto, das 9h30 às 12h30 Preço: R$ 360

SEMANA F/508 DE FOTOGRAFIA — I LOVE FILM
Até 29 de agosto no endereço SCLN 413, Bloco D, sala 113


Para saber mais
Quadro de palestras com entrada franca

  • Preservação da cópia e do original — 23/08, às 19h30, Thiago Barros

  • O analógico e a mídia contemporânea — 24/08, às 19h30, com Gabriela Freitas

  • A fotografia intuitiva de Miroslav Tichý — 25/08, às 19h30, com Janaína Miranda

  • Wim Wenders e a fotografia on the road — 26/08, às 19h30, com Rose May Carneiro

  • Fotografia low-fi e a estética do acaso — 27/08, às 19h30, com Rafael Dourado

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