sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Vale do Ribeira: 24 horas de tensão e caos.

Era madrugada de terça para quarta quando o jornalista Allan Nobrega (@allannobrega) entrou em contato comigo para comentar sobre uma reportagem que mostrava o caos que estava pela região do Vale do Ribeira.

  
Notamos que nenhum veículo de comunicação impresso ou eletrônico tinha fotos do local. No máximo reprodução de vídeos de tv´s.

Discutimos então a possibilidade de fazermos imagens e disponibilizá-la para as agências.

Eram três da manha e começamos a fazer pesquisas. Entrei em contato com o Corpo de Bombeiros de Registro - SP, que estava no comando das operações de resgate de famílias ilhadas. Fui informado de que homens do corpo de bombeiros de Cubatão, Santos e cidades vizinhas estavam se deslocando naquele momento para se juntar com a equipe de Registro para ajudar no resgate.

A ideia inicial era sair de Cubatão no inicio da manha de quinta feira; mas diante dessa informação, não podia esperar. Na mesma hora então comecei a ligar para empresas de transporte. Precisava de um carro para chegar rapidamente em Registro.

Preparei equipamento e separei algumas roupas. Enquanto o Allan verificava informações sobre tempo e planejava toda a logística, eu enviava email´s para agências informando sobre a pauta.

Às cinco da manhã já sabia quem me levaria até o KM 446 da rodovia Regis Bittencourt, local onde fica a sede do Copo de Bombeiros.

Saí de Cubatão às 8 da manhã de Quarta Feira. Eu e o Allan passamos então a atualizar em tempo real as informações no Twitter.

Cheguei à cidade de Registro, 193 Km de Cubatão quase ao meio dia. Fiz os primeiros click´s e fomos em direção ao Corpo de Bombeiros. Enquanto me apresentava ao tenente Renato e tenente Venâncio, que estavam no comando das operações, o Allan checava novas informações e atualizava o Twitter. Enquanto os soldados preparavam a ultima viatura que iria sair, eu aproveitei para mandar as imagens e dispensar o veículo que me levou.

Embarquei na viatura e fui em direção a Sete Barras, região que tinham famílias ilhadas. Perguntei sobre Eldorado e eles responderam que os trabalhos de resgate tinham terminado por lá. Como não pude parar para fotografar, de dentro da viatura fazia os click´s de alguns lugares alagados.

Ao chegarmos à principal via que liga Registro com a cidade de Sete Barras, tivemos que parar. A pista estava bloqueada por causa de um rio que transbordou. Mesmo assim decidimos arriscar.

Em poucos minutos chegamos ao ponto de encontro. Outras três viaturas estavam por lá e já tinham iniciado os trabalhos. Fotografei mais um pouco a movimentação dos bombeiros e parei para enviar as imagens que fiz no caminho.

Por sorte, a bateria do notebook acabou ao terminar de enviar as imagens, e não antes, como eu temia. Como estávamos sem o fornecimento de energia, só me restou entrar na viatura, fazer um rápido lanche e descansar, já que demorava bastante para os barcos voltarem com as famílias.

Sem notebook e celular ( levei dois mas os mesmos ficaram sem sinal ), fiquei sem me comunicar por 5 horas. Sorte que já havia enviado algumas imagens que mostravam o local.

Eram dezoito horas quando os trabalhos foram encerrados. Equipes voltavam para as viaturas. O cansaço e fome eram visíveis na cara de qualquer um deles, inclusive na minha. 

Saímos da cidade rumo ao quartel às dezenove horas. O frio começava aumentar rapidamente. O caminho de volta iria durar 20 minutos, talvez 30 no máximo por ser noite. Mas a pista continuava bloqueada e o nível da água tinha aumentado. Tivemos que voltar e dar a volta por Juquiá. O desânimo tomava conta de todos já que iriamos gastar pouco mais de uma hora e meia para chegar à base.

O silencio era total, mas não era por medo. Era por cansaço. De vez em quando me lembro de gritarmos de propósito com o motorista para que ele não dormisse. Por várias vezes nos deparamos com animais na pista e carretas com lanternas queimadas ou em excesso de velocidade.

Depois de uma longa e exaustiva viagem, avistamos o quartel. Éramos a penúltima viatura do comboio. Batíamos palmas, gritávamos, ríamos. Mas pra que comemorar antes? Quando faltavam mais ou menos 500 metros para entramos na base, nossa viatura quebrou e quase sofremos um acidente. Estávamos em cima do viaduto fazendo o retorno quando isso aconteceu. Descemos do carro e verificamos o que tinha acontecido. Parece ter sido um problema no cambio.

Os risos se tornaram lamentos. Estávamos eu, dois soldados e um sargento. Ninguém acreditava que se não fosse este imprevisto estaríamos na base em menos de 1 minuto.
A última viatura do comboio levou um dos soldados para a base. Ele estava sem agasalho e de carona conosco. Aguardamos por socorro 40 minutos e nada. Decidimos tentar ligar a viatura e ir para a base de um jeito ou de outro. “Conseguimos. Viva. Vai lá meu. Força”. Estes eram os gritos dos soldados que estavam na viatura. Conseguimos chegar na base em 20 minutos.

Ao entrar no quartel, às onze da noite, a primeira coisa que fiz foi procurar uma tomada e recarregar o meu notebook. Mal deu para enviar as imagens. Tive que sair novamente com outra equipe e atender um chamado para resgatar uma família num bairro próximo.

Ao chegarmos, nenhuma família quis sair. Retornamos para a base e fomos notificados de mais um chamado.

Desta vez, algumas famílias saíram. Outras continuavam a resistir e não saíram. Retornei para o quartel as quatro da manhã. Aparentemente tudo calmo,  enviei as imagens com certa dificuldade de conexão. Aproveitei para atualizar as informações no Twitter.

Das quatro da manha até as seis, foram duas horas terríveis de tédio. Não conseguia dormir, estava com muito frio e fome.

Como a situação estava controlada e várias outras equipes de fotógrafos e jornalistas estavam por lá, decidi voltar na quinta feira para Cubatão. Chamar um carro e aguardar no mínimo três horas seria complicado. O Allan entrou em contato com empresas de transporte e verificou valores e horários de ônibus para Santos.

Fui informado por um soldado que uma viatura que buscaria pães para o café da manhã sairia do quartel às seis da manhã. Não pensei duas vezes e pedi um lugar na viatura.

Seis e meia estava com passagem na mão aguardando meu ônibus. Nem acreditava que voltaria para Cubatão. Peguei o ônibus as sete de dez e cheguei a São Vicente as onze e meia. Encontrei-me com o carro que levou para Registro e segui rumo a Cubatão.


Cheguei a casa e mesmo o almoço pronto, nem quis saber. Fui descansar. Acordei de madrugada, fui verificar e-mails, imagens que já tinham sido publicadas e preparar equipamento param mais um dia de trabalho.

Estas foram minhas 24 horas de pauta no Vale do Ribeira. Cansaço, adrenalina e emoção.

Agradeço ao apoio do Corpo de Bombeiros de Registro, dos seguidores, do twitter, amigos e do jornalista Allan Nóbrega. Se não fossem vocês, nada disso seria possível. Um agradecimento especial a João Canuto, que tirou aquele terrível DVD do carro e fez com que a viagem seguisse tranquilamente rs.

Obrigado a todos e esperam que gostem das imagens. Estão disponíveis no site www.interacaovisual.com.br/carlosfelipe ou www.flickr.com/cf-carlosfelipe






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