domingo, 20 de março de 2011

Para incitar reflexão, artista reúne imagens surreais com Google Earth


RAFAEL MAIA
Para quem defende que a tecnologia matou o trabalho de inspiração artística, como o de mestres do patamar dos surrealistas Salvador Dalí e Joan Miró, por exemplo, o programador digital e artista Clement Valla, que já trabalhou com arquitetura e design na China e na França e mora, atualmente, em Nova York, nos EUA, quer provar que a difusão das novas tecnologias no dia a da não exclui necessariamente a grandiosidade das obras de arte com tom surreal e cheias de sub-leituras. Ao contrário, ela pode inclusive aguçar essa combinação.
Em entrevista ao Terra sobre o mais recente trabalho, intitulado Bridges - ou "pontes" - em português, Valla afirmou ter coletado uma série de 60 imagens "surrealistas", ou que, ao menos, passam essa impressão, durante um longo período "brincando" no Google Earth. "As imagens são uma espécie de espelhos de uma casa de diversão. São estranhas ilusões e reflexões do real", afirmou.
Apesar das fortes distorções, que lembram facilmente uma pintura surrealista, as imagens da obra não possuem qualquer manipulação de ferramentas como o Photoshop, por exemplo."As imagens são screenshots do Earth com ajustes básicos de cor", afirmou. "Trata-se de uma construção de mapas 3D sobre bases bidemensionais, criando essas fabulosas e não-intencionais distorções", acrescentou.
Valla é essencialmente um amante dos limites da interação do ser humano, e do mundo tocável, com o universo digital. Com processo ao qual ela nomeia "sistemas de interação tecno-sociais", o artista espera, senão resolver, ao menos iniciar a discussão sobre os conceitos de aleatoriedade e de recombinação na construção de uma obra de arte. "A arte pós-moderna, a crítica cultural e a história da arte têm explorado há tempos a questão da reprodução e da proliferação da cópia como algo oposto à qualidade única e autêntica da obra de arte original", explicou em um artigo disponibilizado no site oficial, clementvalla.com.
A questão, para o artista, esbarra em um ponto crucial de que muito se fala em fórums e feiras que propõem uma reflexão sobre o uso de reproduções e cópias na era digital. Os direitos do autor, ou a questão da autoria no que se refere à originalidade da obra criada em um sistema digital, tornam-se imediatamente confusas quando se tomam, por exemplo, enfoques originais sobre a reprodução digital da realidade.
No caso no Google Earth, ou do Google Street View, as imagens captadas pertecem a quem? Ao artista que apertou o clique naquele momento? À máquina, que é quem efetivamente realizou o clique? Ou ainda não pertence a ninguém, já que se trata simplesmente da reprodução, ou catalogação digital, de imagens do mundo real? Afinal, ao sair à janela de casa e olhar o mundo, pelo recorte produzido pela moldura da janela, não transforma alguém automaticamente no detentor dos direitos sobre aquela perspectiva avistada. Se as dúvidas surgem e são pertinentes, as intenções de Clement Valla foram alcançadas.


Mais imagens em http://tecnologia.terra.com.br/noticias/0,,OI4997345-EI12884,00.html#tphotos

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