segunda-feira, 11 de julho de 2011

Exposição no CCBB mergulha na simbologia estética do movimento punk

O GLOBO



Patti Smith fotografada por Robert Mapplethorpe em Nova York, em 1978 / Foto Divulgação
RIO - No centro do ambiente de sofás estofados de veludo e música em alto volume, uma espécie de loja de vinis raros vai expor 60 capas de discos, de bandas como The Clash, Dead Kennedys e Sex Pistols. O cenário musical foi instalado numa das salas do Centro Cultural Banco do Brasil, e pode servir de aperitivo ou sobremesa da exposição "I am a cliché", que será inaugurada hoje, às 19h30m, com uma seleção de 150 fotos, além de colagens e outras obras relacionadas à estética punk. Com nome tirado da música do X Ray Spex, a mostra não é, como ressalta a curadora francesa Emma Lavigne, um percurso da música punk por meio de imagens. Apesar de ter um caráter documental, retratando um momento histórico específico, intimamente relacionado com o contexto político americano e britânico, a exposição percorre uma estética que nasceu em Nova York, rumou para a Inglaterra e se espalhou por diversos campos artísticos nos anos 1970, mas já se prenunciava na década anterior.
- Geralmente identificamos os anos 1960 como os do swing, mas já ocorria uma mudança estética - afirma Emma Lavigne, curadora do Centre Georges Pompidou, em Paris. - Os Estados Unidos viviam tempos duros, com a Guerra do Vietnã. Em meados dos anos 1960, em Nova York, Andy Warhol se afastava do espírito mais pop e se tornou empresário do Velvet Underground, que começava a formar uma cena musical mais densa. Warhol cobriu de alumínio as paredes da Factory (seu estúdio), criando um ambiente refletor de luz que foi explorado por fotógrafos como Steven Shore, já com o espírito do improviso, do "faça você mesmo". Chamo esse período de protopunk.
Uso visceral do corpo no palco
Emma também cobriu de alumínio as paredes de uma das salas do CCBB, para receber as fotografias de Shore. Em outro espaço, reuniu imagens de David Wojnarowicz e Bruce Connor, e deixou um ambiente reservado somente para as fotografias que Robert Mapplethorpe fez da mulher, Patti Smith. As imagens de Connor foram feitas num club punk em São Francisco, mostrando o vínculo das apresentações viscerais dos músicos no palco com a arte da performance, que também vivia seu auge. Nos anos 1980, Connor fez cópias em papel de suas fotografias, que, rasgadas e queimadas, formaram obras inspiradas na estética das colagens, como um tributo a uma época que já tinha passado.
- Connor era como um fotógrafo de guerra, movendo-se rapidamente, como se estivesse em perigo - compara Emma. - Os fotógrafos não documentavam os shows, eles usavam as apresentações para experimentar. Hoje há muitas restrições para fazer imagens de uma banda.
Dennis Morris, por exemplo, começou a fotografar os Sex Pistols aos 14 anos e viajava com o grupo, um dos mais representativos do punk rock. Para mostrar sua potência, Emma decidiu tocar músicas do Sex Pistols em volume máximo, num ambiente escuro com fotos dos músicos no palco, tiradas por Morris:
Depois de anos de domínio da música eletrônica, muitas pessoas querem envolver novamente o corpo no processo musical. A morte da indústria musical também leva as pessoas a terem mais o espírito do "faça você mesmo".
- Quero que as pessoas entendam o impacto dos Sex Pistols, sintam a energia. Exibir um vídeo não seria a mesma coisa.
À música dos Pistols se uniram as criações de Jamie Reid, que fez todas as capas de discos da banda. A exposição mostra 60 trabalhos de seu arquivo pessoal, com forte cunho político, como a bandeira da Inglaterra rasgada e o combate à monarquia, sempre com humor afiado. No mesmo espaço, Emma reuniu uma série de fotocolagens de Linder, uma performer feminista do grupo Buzzcoks.
- A estética da colagem é muito subversiva, dá a ideia de que tudo pode ser recriado. Por isso há quem fale que o pré--punk é, na verdade, o movimento dadaísta.
Para a curadora, hoje a publicidade e a moda se apropriam do espírito do punk, mas ela não acha que isso signifique uma distorção do movimento.
- Depois de anos de domínio da música eletrônica, muitas pessoas querem envolver novamente o corpo no processo musical. Na França, há muita performance hoje no campo da música - diz Emma, citando a artista Dora Longo Bahia como exemplo no Brasil. - A morte da indústria musical também leva as pessoas a terem mais o espírito do "faça você mesmo".


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