O Festival de Cannes começa na próxima quarta, na Riviera Francesa. E está marcado para a noite de terça o voo dos produtores Rodrigo Teixeira e Raphael Mesquita.
Eles irão de Guarulhos a Paris agarrados a suas acompanhantes: as cópias do longa "O Abismo Prateado".
Chegando a Paris, os rolos de filme se hospedarão num laboratório para receber legendas em inglês e em francês. Só depois disso é que embarcam para Cannes, onde serão projetados no dia 17.
"O Abismo Prateado", de Karim Aïnouz --que esteve em Cannes com "Madame Satã" (2002)--é um dos quatro filmes brasileiros convidados a participar do mais conceituado festival de cinema do mundo.
Quando a seleção para a Quinzena dos Realizadores foi anunciada, o filme ainda estava sendo finalizado. Explica-se assim a rotina de noites viradas do produtor Mesquita. Foi só na madrugada da última sexta-feira, por exemplo, que ele concluiu a lista de créditos.
Aïnouz, por sua vez, está se dividindo entre São Paulo e Rio. Aqui, é finalizada a imagem, com ajuste de cor, limpeza de negativo etc. No Rio, ele acompanha a mixagem de som. No dia 6, fica pronta a primeira cópia.
Com estrutura menor e uma mostra maior pela frente, Juliana Rojas e Marco Dutra, de "Trabalhar Cansa", tinham o filme pronto quando receberam o convite da mostra Un Certain Regard (um certo olhar), a mais importante depois da competição. Mas Cannes pede muito mais que o filme, simplesmente.
"Cai um mundo na sua cabeça", ri, com certa ansiedade, Dutra. "Chega uma ficha para preencher. E aí são seis páginas, com milhões de campos. E não para mais de chegar e-mail."
Eles prepararam trailer, fotos, 2.000 flyers e ainda estão definindo o pôster que levarão.
Gabriel Chiarasteli/Divulgação | ||
Marat Descartes e Helena Albergaria em cena de "Trabalhar Cansa", de Juliana Rojas e Marco Dutra |
NA RAÇA
Se numa grande empresa são muitos os braços para atender aos pedidos de Cannes, na produtora de "Trabalhar Cansa" são só quatro os funcionários.
"A gente faz de tudo: aprova pôster e vai no banco pagar Darf", diz a produtora Sara Silveira.
Os filmes brasileiros que o festival francês quis acolher foram todos feitos à margem da indústria, onde orbitam os estúdios e as distribuidoras internacionais.
"Na maioria dos casos, o que chamamos de cinema autoral é mais conhecido fora do Brasil do que aqui", diz Ricardo Alves Júnior, do experimental "Permanências".
Já a caçula dos selecionados, Alice Furtado, 23, do curta "Duelo Antes da Noite", não acha que a seleção aponte que há "mais espaço" para os brasileiros nos festivais.
"O que acontece é uma renovação dos nomes a ocupar esse espaço", diz ela, que estudou cinema na Universidade Federal Fluminense.
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