Ser um repórter fotográfico realmente não é fácil. Além das técnicas específicas do profissional de fotografia e a linguagem, existem algumas habilidades que somente no dia a dia o repórter fotográfico adquire. Uma delas, é a habilidade de ter sangue frio na hora de clicar momentos difíceis.
Apesar de novo na profissão, já tem um certo tempo que to acostumado a entrar em favelas e ver crianças chorando por falta de ter o que comer, idosos doentes e abandonados em asilos, e muitas outras situações que deixam o repórter fotográfico inquieto.
Mais um exemplo disso se deu hoje, na cobertura do acidente envolvendo oito veículos na Rodovia Anchieta, na altura do KM 42.
Eram mais ou menos 11:00h quando as agências começaram a me ligar pedindo para subir até o local. Vários outros profissionais já tinham tentado chegar no local exato, mas sem sucesso. Eu fiz alguns contatos ( veja, uma habilidade que é adquirida com o tempo, fazer contatos ), verifiquei algumas informações e câmera na mão: lá vamos nós pra rua.
O acidente foi por volta das 10:30h da manhã. Eram 14h quando entrei na rodovia. Realmente não tinha como chegar até o local. Acessei uma pista alternativa e encontrei com uma patrulha, que me escoltou até o acesso à Rodovia dos Imigrantes. Parte do caminho foi feito por uma rota alternativa e na contramão. Um pouco de adrenalina faz bem, não é mesmo ?
Ao chegar na interligação da Anchieta/Imigrantes, fui até o posto da PMR ( polícia militar rodoviária ) e logo vi um amontoado de carros retorcidos.
Ao fundo, vi um senhor falado ao celular com um semblante muito triste. Ele tinha acabado de dar entrevista para uma emissora de televisão. Não pensei duas vezes e comecei a fotografar, com uma certa distância claro. Fotógrafo não pergunta se pode fotografar. Se perguntar, perde a chance. Poderia ser uma pauta interessante. Depois de alguns cliques, fui verificar quem era aquele senhor que aparentemente estava desesperado.
Depois de conversar com algumas pessoas, descobri que ele era marido da vítima fatal, que estava neste carro preto da foto acima. Fui avisado que ele até então não sabia da morte da esposa, de 53 anos.
Me aproximei dele, me apresentei e conversei. Conversamos por cerca de 10 minutos e continuei o fotografando. É muito difícil não se envolver na história, não querer ficar emocionado, mas é preciso ter sangue frio. Tentei acalmá-lo e fazer mudar de assunto. É difícil, mas é o que eu podia fazer no momento.
Nessa pauta, aprendi mais algumas habilidades, que só se conquistam no dia a dia:
- Fotógrafo sempre precisa ter/fazer contatos. Ele não trabalha sozinho, mesmo que só ela componha, foque a imagem e acione o obturador.
- Nunca deixa uma chance de uma boa foto/pauta passar;
- Fotografe primeiro e pergunte depois, mas nunca extrapole o limite. Há momentos em que tem sim que se abaixar a câmera;
- Tenha sangue frio para não se envolver demais na história. Você está lá para fotografar. Você não é psicólogo, mas também é ser humano como qualquer outro.
Veja imagens deste acidente e outras pautas no meu site, em http://interacaovisual.com.br/carlosfelipe e http://flickr.com/cf-carlosfelipe
Até a próxima!
Nenhum comentário:
Postar um comentário